O que poderia ter sido se tivesse dito alguma coisa.
Era uma ânsia interior permanente, que o fazia estar sempre um pouco à frente do momento.
Forrava as paredes com imagens de todos os locais onde já estivera, gostava delas vazias.
Um dia, sem querer, tropeçou nela e quebrou a monotonia.
Todos os dias lhe acontecia a mesma coisa desagradável. Acordava.
Adorava os dias de sol e calor. Nem saía de casa.
Esperou que a bicicleta virasse à direita. Não virou. Paciência.
Sentia-se completamente na lama. Ia dar uma trabalheira limpar.
Tentou desesperadamente enviar uma mensagem antes que o avião atingisse o solo. Tarde demais. As pessoas já se começavam a levantar e a retirar as bagagens.
Não deixou sair as lágrimas. Inundou-se de tristeza para afogar as mágoas.
Às vezes cheirava a mar na cidade. Às vezes cheirava a ela.
Viu o carro aproximar-se. Ficou imóvel. Estava vermelho para os peões.
Estava na berma da ponte. Queria saltar. Sem coragem. Decidiu. Saltou. Não confiava nisto do bunjee jumping.
Aconteceu tudo de uma forma muito rápida. É a vida.
Viu a vida a passar-lhe diante dos olhos. Optou por não a cumprimentar.
Ela submergia-o em ondas de paixão. Até que um dia o afogou.
Pensou viver da caça. Mas ficava estranho entrar no talho com arco e flecha.
Um dia, decidiu ir e foi. Depois voltou, como fazia todos os dias.
O paraquedas não abriu. Caiu com estrondo no chão. Maldito sonho.
Uns dias, subia pelas escadas e descia no elevador, noutros dias, fazia precisamente o contrário.
Não foi preciso ela dizer nada.
Abriu a janela. O mundo lá fora tinha mudado pouco. Voltou a fechar.
Percebeu que estava em maus lençóis. Mudou para outros.
A sua grande paixão era escalar montanhas. Mas não as sabia descer.
Adorava o cheiro a café pela manhã. Nunca fazia.
Molhava os lençóis com água do mar para dormir com ela.
Não conseguia evitar contar os dias.
Olhou as pedras da calçada. Não chegou a conclusão nenhuma. Seguiu em frente.
Sempre que pensava ir contemplar as estrelas, estava enevoado. Quando não estava, nunca lhe apetecia.
O único medo, ao deitar-se ao lado dela, era danificar o retrato.